Pouco antes das 6h, o professor de Artes Matheus Santos já está pronto para cruzar o Rio Negro. Ele não está só. Vários outros professores da Rede Municipal de Ensino também estão reunidos na Marina do Davi, na Zona Oeste de Manaus à espera de transporte. Só de barco, eles vão conseguir chegar às escolas onde trabalham.
Para esses educadores de escolas ribeirinhas, o ano letivo de 2020 começa mais cedo. “A gente precisa começar as aulas em janeiro pra poder seguir o trajeto do rio que começa a encher em janeiro e em outubro começa a secar, e a nossa dificuldade já é maior a partir de outubro”, explicou Matheus.
Não é de hoje que se sabe que os rios são como estradas na Amazônia. E são as águas que comandam até onde se pode chegar. O nível do Rio Negro por exemplo, varia em média 11 m, entre o pico da seca e o ponto mais alto da cheia. Quando o rio fica muito seco, os barcos não conseguem navegar. Professores e alunos então ficam sem condução e praticamente sem escolha. A viagem, que dura cerca de 30 minutos de barco, passa a ser uma cansativa caminhada de algumas horas sob sol forte ou chuva.
Na casa da Dona Lucileia, são quatro crianças em idade escolar. Todas começaram a estudar no início de janeiro. A família mora às margens do Rio Negro, na região do Tarumã.
“A gente se acostumou já com essa aula agora no início do ano. Pra gente, já ficou normal”, disse a mãe dos quatro irmãos que descem a ladeira de terra batida para entrar na lancha do transporte escolar.
Vinte e nove escolas ribeirinhas seguem o calendário antecipado em Manaus. São cerca de 2 mil alunos que começam a estudar em janeiro e só param em outubro. Além disso, eles não têm o recesso do meio do ano.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação determina que os alunos estudem 200 dias letivos e tenham 800 horas de aula. Para dar conta dessa exigência da LDB, foi preciso ajustar o calendário escolar dos ribeirinhos.
“Nós iniciamos a partir do dia 2 de janeiro, trabalhando dois sábados letivos até o meio do ano, e onde seria a compensação dos professores fica pro final do ano, do encerramento do ano letivo, nós encerramos em outubro e a partir daí os professores tiram o recesso dos 15 dias e mais as férias compensatórias”, disse Edilene Pinheiro, Chefe da Divisão Distrital Rural da Secretaria Municipal de Educação.
G1 – AM