“Do Acre? O Acre existe? Lá tem dinossauro?”, estas são algumas expressões que os acreanos escutam rotineiramente de pessoas de outros estados, às vezes, em tom de brincadeira, outras nem tanto, mas para alguns empreendedores da capital Rio Branco, os termos acabaram virando negócio de sucesso.
O dialeto do Acre, junto com os questionamentos e até mesmo algumas peculiaridades de pessoas, como Davi Friale, e a Universidade Federal do Acre (Ufac), onde é comum a presença de capivaras, viraram camisetas.
Com uma dose de humor sarcástico e um pouco de observação desses fatos, a vida do empreendedor Henrique Góes, de 23 anos, que trancou a faculdade de medicina veterinária para se dedicar ao empreendedorismo, acabou mudando significativamente.
As camisetas criadas por Góes trazem ilustrações que misturam o mundo nerd com a cultura acreana, o exemplo clássico é a mais famosa da criação dele que faz uma paródia de Jurassic Park.
Na versão do Acre, a arte substitui o dinossauro por uma capivara, animal famoso por circular dentro da Ufac, e também faz referência ao “menino do Acre”, Bruno Borges, que desapareceu em 2017.
O empreendedor diz que os Beatles também sempre estão em alta e a foto icônica de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr cruzando a faixa de pedestres da famosa avenida de Londres, na capa do álbum “Abbey Road”, ganhou uma versão bem acreana, a “The Beatles Ufac” com capivaras no lugar dos integrantes da banda.
O negócio deu tão certo que o Góes parou a faculdade, apesar de estar no sexto período. A Ufac foi um dos lugares que trouxe a inspiração para ele começar o negócio.
“Fazia o curso de medicina veterinária na Ufac e sempre tive um poder aquisitivo meio baixo e consegui uma bolsa de R$ 400, sempre tinha congresso por aí e nunca tinha dinheiro para pagar por eles e tive a ideia de fazer a camiseta usando o dinheiro da bolsa, foi aí que tudo começou”, conta.
Só que os congressos da faculdade ficaram para traz. Agora, ele pensa mesmo é em produção para garantir o estoque e as vendas. A ideia surgiu há dois anos, em 2017. No início deste ano, ele deixou a faculdade, e se dedica à loja virtual.
Comparações nerds
Outra paródia que faz a diversão sair estampada no peito, é a junção da série de TV Game of Thrones. Na série, os moradores de uma determinada região [Winterfell] utilizam a expressão “Winter is coming” que se refere a chegada do inverno.
Na brincadeira, a estampa traz o mago do tempo do estado, Davi Friale, famoso nas redes sociais pelas suas previsões muitas vezes inusitadas e algumas outras exageradas sobre a chegada de friagens na região.
Sempre com a capivara em destaque, as camisetas ainda apontam que o Acre deveria ser estudado pela Nasa e faz referência a um meme que está alta: “O brasileiro deveria ser estudado pela Nasa”.
“Lá na Ufac, as capivaras são bem comuns e adoradas pelos alunos e tentei experimentar. Sempre que faço um novo modelo mostro aos amigos para ter um feedback”, contou.
As camisetas são em algodão e custam, em média, R$ 50, segundo explica o jovem empreendedor que chega a vender mais de 30 unidades mensalmente.
“Sempre busco na cultura nerd que está em alta e misturo com as tendências da nossa região com a nossa cultura. Faço essa mistura que eu sei que as pessoas vão gostar. A ideia deu certo, a galera começou a gostar. Fiz outros modelos até que chegou ao Jurassic Acre que é o que faz mais sucesso”, conta ao G1.
As ideias criativas de fazer as sátiras fazem parte de quem ele é e surgem naturalmente.
“Veio um pouco do meu próprio ser, do jeito que costumo ser e tive uma ideia e levei para os amigos e eles aprovaram a ideia e produzi as camisetas, fiz um vídeo para anunciar e deu super certo. Entendi que as pessoas gostaram de enaltecer a cultura do Acre”, ressalta.
‘Made in Acre’
Em tradução livre o termo made in Acre, quer dizer criado no Acre. A marca criada no estado também segue a linha do humor e do orgulho de ser acreano.
A mensagem surge de forma descontraída, bem-humorada e até um pouco sarcástica. Assim como usadas em tatuagens e adereços, as expressões não verbais também podem ser vestidas, foi assim que a mensagem virou negócio.
É neste conceito que as amigas Juliana Pejon e Rayssa Alves criaram uma marca para mostrar o bairrismo e amor pelo estado.
No caso da marca, elas usam o dialeto local, expressões que são verdadeiros bordões, e gírias utilizadas no dia a dia.
“É mermo [é mesmo]”, “bagaceira [a festa começou boa, mas terminou uma bagaceira]”; acreano do pé rachado [acreano de origem]”, são termos utilizados nas estampas da primeira coleção que foi lançada no último dia 7 de dezembro.
Mas, a ideia veio bem antes, ainda no começo do ano, durante o carnaval, quando um grupo de pelo menos oito amigas viajaram e confeccionaram a camiseta “Made in Acre.”
“A gente foi com um grupo de amigas para o carnaval e então pensamos: que tal a gente fazer uma camisa para identificar que somos daqui? E as meninas aprovaram, Coloquei o ‘made in acre’, na parte da frente, e ‘ainda duvida que ele existe’, nas costas”, conta Rayssa.
A partir daí, ela conta que fez a arte, levou em uma malharia e pronto, as portas estavam abertas para começar um novo negócio. Mas, para chegar até o produto final, ela diz que foi um longo processo, para chegar em uma peça que pode ser usada no dia a dia.
“Porque as pessoas ficam perguntando se o Acre existe e a gente quis fazer essa brincadeira que eram mulheres bonitas. O pessoal fala que a gente não tem cara de acreana e a gente seria a prova que o Acre existe”, relembra.
O que elas não esperavam é que ia fazer tanto sucesso. Quando começaram a postar fotos da viagem, as pessoas perguntavam onde tinham feito as camisetas.
“Então a gente mandou confeccionar em uma fabricante lá de São Paulo, um produto de qualidade para as pessoas usarem como peças delas do dia a dia delas”, contou.
Foi quando as amigas decidiram criar a própria marca e vender, ao invés de apenas dizer onde tinham mandado fazer as peças. Atualmente, elas são vendidas ao valor único de R$ 98.
“A gente tem orgulho de falar que é do Acre, quando falam daqui a gente defende. Então quisemos fazer isso de uma forma conceitual. Na primeira coleção temos o uso do ‘mermo’, ‘bagaceira’, ‘acreano do pé rachado’ e made in acre que é o nome da marca e outra com a bússola com a localização do estado, e uma frase que afirma a existência do Acre”, conclui Rayssa.
G1 – AC